Marco central dos processos que levaram ao desenvolvimento econômico e demográfico do atual município de Mauá, a estação ferroviária local foi inaugurada no dia 1º de abril de 1883, um domingo. Denominada inicialmente de ‘Pilar’ em alusão a igreja do mesmo nome, a estação era em seu nascedouro um retrato da incipiente Mauá: pequena, feita de madeiras e que atendia a poucos passageiros até então.

Conforme Ademir Medici, “esta várzea do Tamanduateí permaneceu pacata, com poucos habitantes, até a concretização das obras ferroviárias”. Por aqui, até então as atividades econômicas estavam primeiramente ligadas ao extrativismo, sendo gradativamente substituídas pelas atividades industriais (olarias, extração de pedras, cerâmica, louça, porcelanas e outras). Isso mudou drasticamente com o surgimento da ferrovia, e com ela, a estação de Pilar, depois Mauá!

Ferrovia e estação de Pilar

Como não poderia deixar de ser, a pioneira estação inaugurada há 140 anos era toda construída em madeira, situada exatamente onde hoje está inserida a passarela central. O primeiro agente e chefe da estação Pilar da SPR (São Paulo Railway) foi Samuel Prado que, certamente não tinha ideia de que aquela então pacata paragem seria palco do nascedouro de uma das maiores cidades brasileiras, quase um século e meio depois.

Como citado anteriormente, o nome de Pilar tem estreita relação com a Igreja Nossa Senhora do Pilar, localizada na atual Ribeirão Pires. Essa capela, cuja origem remonta o ano de 1714, foi o núcleo originário das povoações ocorridas no período colonial no que podemos considerar como os traços originais da formatação territorial do que conhecemos hoje como ABC paulista.

Durante muitos anos, a região do ABC paulista se constituía num único município, chamado São Bernardo, que por sua vez era dividido em vários distritos, dentre os quais o Distrito de Pilar. Fato curioso é que até 1883 não havia nenhum acesso dos locais à estrada de ferro, o que obrigava sitiantes e fazendeiros de Pilar que quisessem se utilizar da ferrovia locomover-se até a estação São Bernardo (atual estação Celso Daniel, em Santo André).

Tal situação perduraria até primeiro de abril de 1883, quando da inauguração da estação Pilar, cuja construção teria sido um ‘agrado’ da Superintendência da São Paulo Railway para a crescente população local. Certo mesmo é que a partir daí, Mauá é inserida dentro de uma rota de desenvolvimento que tem na estrada de ferro seu fator determinante. A Estrada de Ferro ‘Santos – Jundiaí’ levava e trazia riquezas, deixando em seu rastro a ‘fumaça’ das locomotivas e os ventos do crescimento por elas expandido.

Mauá, a homenagem ao patrono da ferrovia no Brasil

Tão certo é o pioneirismo do gaúcho Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, no tocante à implantação do modal ferroviário no Brasil quanto também se apresenta inquestionável a importância da ferrovia e da estação para o nascimento efetivo do povoamento que surgiu como Pilar e que depois se transformou na cidade que temos hoje.  A época da inauguração (1883), o pequeno povoado não passava de poucas centenas de habitantes e foi justamente esse povo que daria a homenagem à Mauá com a denominação do distrito.

Um fato religioso marcou o início da efetivação do nome de Mauá como o definitivo para a designação do território, no caso, a construção e celebração de missa inaugural da capela de nossa Senhora da Conceição, entre 1917 e 1918. Foi a partir da inauguração dessa capela que a localidade passou a ser nominada como “Bairro de Mauá”, mesmo a estação ainda permanecendo como Pilar. Saliente-se que tal homenagem ocorreu por iniciativa do povo.

Essa dúbia interpretação entre Pilar e Mauá perdurou durante determinado tempo, até a oficialização da estação como Mauá em homenagem ao empreendedor e pioneiro das estradas de ferro no Brasil em 1926.

Nada mais justo para o personagem que foi o maior responsável pela construção da ferrovia, que por sua vez determinou o surgimento da cidade.

Bibliografia consultada:

http://www.estacoesferroviarias.com.br

MÉDICI, Ademir. De Pilar a Mauá. Mauá: Prefeitura de Mauá - Fundo de Apoio a Cultura, 1986.

Por Daniel Alcarria *

(*) Jornalista e Historiador.